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#8M nas ruas e a revolução dentro de mim

Publicado por:
Polianna Santos
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Ir para a rua no 8 de março não é mais uma opção, é para mim uma necessidade. É físico, é até difícil explicar. Ver as mulheres todas juntas, somar forças com elas, sentir essa energia é algo que renova, que dá forças, que faz acreditar que tudo é possível. E é sempre, sempre surpreendente. É dia de muita luta, mas também de comemorar nossa força e reconhecer nossa potência.

O que eu sinto é isso. POTÊNCIA. E diversidade.

Numa dessas a Nicole Porcaro, companheira da Visibilidade Feminina, observou sobre como a nossa luta é ampla. Estávamos no 8 de março unificado de BH, que tem diversos pontos de saída para manifestação de rua. Escolhemos um e acompanhamos o carro de som, que alternava o microfone entre diversas mulheres.

As falas englobavam tantas questões. Falta de trabalho, mortalidade infantil, violência, assédio, preconceito, moradia…. Não é possível falar de feminismo que não reconheça as nossas diferenças, que não seja inclusivo, que não seja interseccional.

Essa semana vi dois filmes que me impactaram muito, e que me tocaram exatamente sobre esse ponto. Capitã Marvel e Absorvendo o Tabu (Netflix). Vale a pena ver os dois. Eu vi quase na sequência.

Capitã Marvel fala sobre superação. Sobre a mulher reconhecendo sua potência, vencendo dificuldades, alcançando o inalcançável. Saí do cinema em êxtase, certa de que tudo é possível e me sentido forte. Querendo ser Presidente do Mundo. Chorei e ri. É sério, vejam.

Absorvendo o Tabu é o documentário que ganhou o Oscar falando sobre menstruação. E me deixou em choque. (Quem não curte documentário vai tranquilo, rapidinho, 25 min).

Quando fiquei menstruada eu estava na rua e sujei minha roupa. Fiquei com vergonha, claro, mas sabia do que se tratava, pude ir para casa, tinha absorventes lá e eu sabia como usar. Como quase toda mulher já passei por alguns constrangimentos assim, normal né? (Aliás, essa história de constrangimentos com relação ao sangue menstrual vale uma discussão própria, mas fica para outra vez). Agora imagina parar de estudar por menstruar? Não saber do que se trata ou para que serve, acreditar que é uma doença e sequer conhecer um absorvente, saber usar ou não ter condições de comprar? Eu realmente não posso nem imaginar. Não chega nem perto da minha realidade. Me deixou absolutamente estarrecida.

Talvez eu esteja muito mais perto da mensagem que a Capitã Marvel passa. Mas tem mulheres que antes de pensar em ocupar esses espaços, tem que alcançar direitos mais básico, como por exemplo, sobre saber como lidar com a própria menstruação.

É algo como falar do “Free the nipple” e da luta pela vida das mulheres negras. Não estou dizendo que qualquer desses movimentos seja desimportante. Mas digo que não pode acontecer ignorando a essencialidade do outro.

Falar sobre mulheres nos espaços de poder, a meu ver, é essencial, inclusive para dar visibilidade às mulheres, aos nossos pontos de vista, e às questões que nos sejam peculiares, como a menstruação e a maternidade, por exemplo. Mas isso não pode se dar ignorando as demais necessidades, ou com a crença de que se eu cheguei em determinado lugar, qualquer outra chega. Isso é tão falso quanto cruel.

É muito importante reconhecer nossos privilégios. E ser privilegiada não significa viver longe de dor e dificuldade. Não. Mas é saber que existem questões que não são dificultadores na sua jornada. Para mim, por exemplo, reconheço que o fato de ser uma mulher branca me coloca numa situação de privilégio. Assim como ter tido acesso à educação de qualidade. Ter acesso a absorventes, como acabei de aprender, também é.

Aqui o convite é também para as mulheres que já conseguiram algum sucesso na sua caminhada. Olhe para os lados, reconheça as mulheres que vieram antes de você, e dê suporte e apoio para as que estão ainda lutando muito para chegar mais perto. E não diminuir a luta de ninguém, não desmerecer ninguém.

Feminismo não é só sobre o seu sucesso. Ficamos felizes com ele, mas é importante fazer eco ao movimento em busca de igualdade, não para umas poucas. Para todas nós.

Precisamos recarregar porque há muito caminho pela frente e a gente cansa, como maravilhosamente disse a Paula Bernardelli, mas não vejo alternativa que não resistir e seguir. Não vamos aceitar a Síndrome da Costela de Adão, não é mesmo Roberta Gresta?

Sobre a autora

Advogada, professora, empreendedora, sobrevivente. Mulher em processo permanente de revisão.

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